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Iniciativa, frustração e o medo intrínseco de tentar

Reflexão sobre a dificuldade de tomar a iniciativa e agir sem influência de terceiros.

Iniciativa, frustração e o medo intrínseco de tentar

Ainda estou incerto em como escrever isto, porém sei que preciso de alguma forma, tanto para reorganizar melhor os pensamentos quanto para que eventualmente possa servir como um registro de minha pessoa. Já reitero que embora algumas coisas abordadas aqui terão alguma pesquisa por trás, trata-se da minha experiência pessoal do assunto corroborado por vivências, terapia e conversas distintas com pessoas que fazem parte da área da psicologia.

Embora poderia contar com auxílio externo para que este texto pudesse ser algo com mais embasamento, o intuito é redigir por conta própria de maneira introspectiva de forma a auxiliar em algo que será abordado no decorrer do texto. Esta é a primeira parte a ser escrita e estou incerto se farei alguma alteração, porém pretendo deixar o mais perto possível da primeira versão caso venha a ser. Não leve ao pé da letra quem está escrevendo isto ouvindo Mitski e Lizzy McAlpine. Boa leitura!

A iniciativa

A algumas semanas venho percebendo e refletindo como sempre costumo ficar acuado em algo que demanda uma iniciativa da minha parte, em qualquer âmbito da minha vida pessoal. Foram poucos os momentos que realmente consigo dizer onde tomei de fato uma iniciativa sobre algo, seja em escolhas relacionadas a estudos, carreira, hobbies e amor, e isto está em um ponto quase insustentável de manter da forma como faço normalmente.

Em uma situação do tipo onde tenho uma escolha a fazer sobre algo que pode me acarretar diversos benefícios, porém com uma chance de uma falha que ocasiona uma frustração, optava e ainda opto por simplesmente tentar ignorar o problema de maneira interna e suprimi-lo até que desapareça, ou que eu acredite que desapareceu. Em uma vida onde pudesse escolher diversas oportunidades, eu sofreria antecipadamente em todas exceto se algo de fato aconteça e seja direcionado a mim, me tornando sempre uma figura passiva da minha própria vida.

Veja bem, desde que me entendo por gente sempre tive um papel de espectador em relações sociais como um todo, o que embora faça com que eu consiga analisar algumas situações por outra ótica e chegar a conclusões com base nos acontecimentos relatados, me coibiu de desenvolver qualquer habilidade a respeito de quando eu faço parte de um convívio social. Mesmo que eu veja relações interpessoais com uma certa indiferença quando são a família, trabalho ou uma comunidade externa que não faço parte no momento, é inegável que é uma habilidade necessária tanto para o convívio em sociedade quanto para alçar voos maiores em minha carreira, tornando-a indispensável de ser desenvolvida caso almeje algo maior para a minha vida.

Frustração e fracasso

Sabendo disso, na teoria é algo relativamente simples: preciso me expor mais e adquirir novas experiências. Todavia, embora soe como algo simples no papel, há diversos entraves que impedem a execução, sendo o principal deles o medo de fracassar. Se expor é sempre um risco incerto de eventual tentar algo, fracassar e se frustrar no processo (ainda não vou entrar no mérito dessa visão pessimista) e por conta disso, em um primeiro momento a opção de simplemente não tentar parece viável ao colocar as diversas inseguranças e medos na mesa, fazendo com que seja a opção escolhida. O que não costuma ser previsível é justamente o quão sofrível essa opção pode ser caso venha a ser usada múltiplas vezes, o que provavelmente irá ocorrer.

É uma situação que de certa forma pode ser análoga a que acontece em Procurando Nemo, onde o Nemo é uma figura extremamente protegida em seu lar e acaba tendo uma rotina mais limitada e com falta de vivências e Marlin é a figura que protege seu filho ao extremo por conta de um trauma relacionado a ele no seu passado, o que o leva a temer a perda do filho e a frustração de alguma maneira desonrar a sua esposa que morreu para proteger a ninhada. A diferença neste caso consiste que ao invés de 2 figuras com seus papéis, sou ao mesmo tempo tanto Nemo quanto Marlin, preso em um ciclo de me proteger e me sentir protegido.

Algo que complica ainda mais essa situação é que no filme o pontapé inicial para a ruptura deste ciclo entre eles fora causada por um terceiro indivíduo, porém uma vez que eu busco uma certa autonomia é algo que não consigo contar no momento a não ser que essa seja a maneira viável que eu encontre por meio de monólogos internos e reflexões que terei pelos próximos dias. Por ora tenho a consciência de que estou preso em um ciclo paradoxal de sofrimento causado pelas minhas próprias escolhas e em um ponto difícil de voltar e sou atormentado por conta de uma situação. Em nenhum momento foi algo imposto a mim como as pessoas presentes na alegoria da caverna de Platão, o que, na verdade, pode ter sido imposto de certa forma durante o processo de socialização primária, mas não muda a situação que atualmente eu escolhi ficar na caverna, portanto, eu sou responsável por isso, essa situação que continua a causar sofrimento só existe por que permaneço nela, e ciente disso quero deixar de permanecer e enfim sair da caverna.

Isso vai de encontro ao ponto inicial: preciso aprender a tomar iniciativa para quase todos os âmbitos existentes e este seria o primeiro passo, preciso deixar de ter sempre uma visão pessimista da realidade disfarçada de um realismo barato. Quero ser alguém que consiga decidir as coisas por conta própria, que saiba dizer não e impor limites ao invés de se deixar levar, que se gostar de alguém consiga ao menos tentar falar algo, que quando tenha a ideia de um projeto consiga terminá-lo, que deixa de perder oportunidades por um medo intrínseco de falhar, e por fim, alguém da qual possa me orgulhar e dizer que ao menos tentei. Por conta disso que infelizmente não me vejo podendo contar com algum apoio direto para buscar soluções neste momento inicial embora gostaria que tivesse, porém saber que posso contar com algumas pessoas no caso de alguma frustração já é motivo para ao menos tentar nem que seja uma vez, afinal é melhor viver do que simplesmente estar vivo.

Provavelmente farei mais edições neste texto a medida que for refletindo melhor algumas questões e eventualmente ponderar melhor algumas questões, além de me aprofundar melhor em espaços entre parágrafos conforme mais reflexões vierem a mente, já que toda discussão deste caso ocorreu hoje (14/11) durante uma sessão de terapia.

Esta postagem está licenciada sob CC BY 4.0 pelo autor.

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